quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Shuffle mode


Pensar em unidade é uma forma de racionalizar e procurar a menor parte inteiriça é o que se faz há muito tempo, seja na ciência ou no pensamento, definindo e rotulando tudo o que se observa. Ser átomo, uno, central, integral, total ou qualquer coisa que remeta à indivisão é o que se busca em alguns momentos, na tentativa de se encontrar sentido.

Mas às vezes procurar essa exatidão pode nos tornar menos humanos e sensíveis, porque talvez o simples feeling seja a diferença entre os julgamentos, ou então situações podem ser resolvidas sem técnica, mas intuição pura, sensibilidade e tipos de inteligência que talvez não tenham sido decifradas ainda.

Em pleno culto ao perfeccionismo das máquinas, o Homem pode se tornar menos humano, porque não há meio termo para elas, não há julgamento irracional, não há o simples chute do que é certo (exceto pelo milagroso shuffle).

Na área da música, por exemplo, percebe-se uma grande diferença de precisão de performance da música popular pela inserção de ferramentas que tornam a música mais mecânica e menos imperfeita. Dizem até que quanto mais precisa, mais se vende. Discordo, mas esses são outros quinhentos.

Fato é que muitas vezes nos prendemos à uma frustração da imperfeição da raça humana, descontando parte do belo por isso. Mas há beleza no que tem defeito e limitação, pois nunca seremos unos e totais, átomos robotizados e sequenciados. Tomara.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O poder de cada dia



De acordo com a nossa amiga Wikipedia, “Poder (do latim potere) é, literalmente, o direito de deliberar, agir e mandar e também, dependendo do contexto, a faculdade de exercer a autoridade, a soberania, ou o império de dada circunstância ou a posse do domínio, da influência ou da força.”

Pois é, o poder é tudo na hora de se diferenciar das outras pessoas. De acordo com a nossa Constituição nós somos iguais, mas na prática o poder é exatamente o que nos faz únicos e diferentes.

Para quem acha que estou falando de Direito, essa é uma visão limitada. Falo das relações interpessoais, do status social e da capacidade de cada um conseguir o que deseja.

A beleza, a força física, a riqueza, o choro, a retórica, a fama, os contatos e muitas outras coisas são parte de um pacote de poder que cada indivíduo possui. Vejamos uma mulher bonita: se ela souber seduzir ela conseguirá muitos amigos, amantes, alguma riqueza e muitos convites gratuitos... Não importa o fim, o meio nem a moral, mas isso acontece a todo instante.

Mas o importante é que todos, atenção, TODOS têm algum tipo de poder ou potencial para exercê-lo e mais vale encontrar a maneira de lidar com ele e o público ao qual ele será aplicado do que buscar desenvolver um tipo de poder que não se é tão propício.

Funciona quase como um talento para um (ou alguns) tipos de poder, mas se pararmos pra pensar encontraremos o poder nas sutilezas.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Fin.


Um dia doente em casa e muita coisa pra fazer, pra pensar, pra projetar. O corpo pede socorro e a cabeça decola rumo ao pensamento, à reflexão. Por mais simples que pareça, quão intenso é o que sentimos? Como podemos ser tão diferentes e sofrermos pelas mesmas causas, tendo uma humanidade inteira para compararmos os casos.

Somos feitos da mesma química, escravos das mesmas paixões, compartilhamos as mesmas limitações. A primeira é tornar o mundo extratificado. A segunda é não sermos capazes de entender a existência, o porquê maior.

A única certeza é exatamente o que se tenta de toda forma fugir, enganar, repreender. Morte. Fim, passagem, recomeço, transformação. Param-se os suspiros, as aspirações, apaga a memória, os próximos momentos de esfacelam.

A vontade de posteridade é prova da pequenice humana, assim como a prole. Calma, não deixemos de querer crescer nem de ter filhos, mas vale a reflexão do motivo para tais ações. A posteridade é consequência e o melhor da prole é a família, o amor. É fácil colocar assim para um jovem sonhador curioso.

sábado, 11 de setembro de 2010

Só sei que sei sentir

Buscar temas e material pra escrever pode ser meio complicado. Ao ler, beber das fontes de conhecimento e observar os pensamentos, tudo ficou muito subjetivo, talvez por uma simples falta de vivência, ou por desconhecer teorias e técnicas.

Mas, ao invés de desistir, que tal simplesmente sentir, expressar nas palavras a frustração de não saber o quanto se gostaria? Não há sentimento errado ou incompleto. Ninguém pode corrigir o sentimento alheio.

Essa consciência é muito motivadora, ter a certeza de que nenhuma crítica vai mudar a sensação que gerou uma obra, seja pela liberdade de simplesmente ser ou porque o pensamento é mais forte do que as forças que o reprimem.

A mesma reflexão pode se estender aos conselhos. Apesar de o conselheiro se sentir na posição de poder ter um ponto de vista de fora, talvez mais experiente do que o aconselhado, nada substitui a sensação e as pressões de vivenciar o problema em questão.

Por isso, a melhor maneira é ouvir os conselhos, assim como buscar novas fontes de criação, mas no fim das contas o que importa é que cada um faz, como age, como sente, como faz escolhas. Acho que todo mundo já cansou de ouvir o que os outros acham, então fico por aqui.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Quem é o dono da arte


Com tantos amigos músicos, compositores e artistas, fico pensando o que nos leva a escrever letras, textos, compor músicas, pintar ou qualquer outra forma de arte ou produção.

A necessidade de expressão pode ser muitas vezes incontrolável, como se tudo estivesse incompleto até que terminemos de dizer tudo o que queremos, ou pelo menos tudo que nos vem à cabeça.

Tanto serve para esvaziar a cabeça (e se a obra for boa preencher o mundo) como para ser uma reflexão que pode desembocar numa visão, um retrato daquele momento. O bom é que sempre que se tira esse retrato entende-se um pouco mais da imagem, até mesmo para compará-la com imagens de outros artistas.

Pouco importa quem, como, porque, pra quem... Sinceramente a única coisa que importa é que tudo emerge de dentro, com pouca ou nenhuma influência de público ou objetivos de marketing dos bens simbólicos.

Essa arte natural e sincera é o que está em falta no mercado. Não porque as pessoas deixaram de produzi-la, mas porque durante muito tempo fomos escravos de uma indústria curadora que marginalizou tudo aquilo que não rende lucro. Agora temos que procurá-la por aí, e por isso, podemos recorrer à internet.

Todos os dias da minha vida crio coisas que as pessoas me pedem, esse é o meu trabalho. Mas hoje me dei a liberdade de produzir o que quero e me sinto muito mais completo. Já produziu a sua arte hoje?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A inércia da motivação


Tem uma música do Cazuza que começa com a seguinte frase: “Hoje eu acordei com sono / Sem vontade de acordar”. E quem nunca acordou assim, desmotivado, querendo jogar tudo pro alto, cancelar todos os compromissos e mandar o chefe pra aquele lugar?

Tristeza, depressão, preguiça, infelicidade... cada um põe o rótulo que quer, mas imagino uma definição mais pragmática: todo mundo tem dias ruins e por mais que tenhamos a consciência de que somos fortes e capazes, às vezes a gente simplesmente não aguenta e se deixa levar por forças negativas.

Como toda maré, a motivação vem em ciclos, com uma característica que acredito ser muito pertinente, a inércia. Tem uma relação com movimento e estática, com se manter no mesmo estado por algum tempo.

Entendendo essa lógica, talvez seja interessante aprender a controlar essa força que nos tira da inércia, uma aceleração que tem o poder de nos fazer encher o peito de ar e levantar, nos manter atentos e focados nos objetivos, criando situações motivadoras para nós mesmos a todo momento.

Ao mesmo tempo, temos que respeitar nossos sentimentos. Se hoje acordei triste, melhor entender da onde vem a tristeza do que ficar me distraindo ou totalmente vidrado na ideia de virar o jogo e me sentir bem, sem perceber o real motivo da tristeza, porque um dia ela volta, talvez ainda pior.
 

domingo, 5 de setembro de 2010

Disneylife


Sabe aquela sensação de nadar muito e morrer na praia? Pois é, parece que logo após uma fase sentimos que voltamos à estaca zero, tipo uma roda gigante, com altos e baixos e com a saída no mesmo lugar da entrada.

Mas a diferença entre entrar e sair, pela mesma porta, é imensa. Duas coisas são notadas e fazem a diferença, que são a experiência que foi vivenciada e a memória que ficou.

Esse papo de a História ser cíclica tem esse ar de repetição que não acredito condizer com a realidade, porque a cada segundo estamos mais experientes e mais vividos, seja pro bem ou para o mal, pois o inédito tem sua vez e valor.

Do ponto de vista da memória, seja ela positiva ou negativa, ela dá base para experimentar os outros brinquedos do parque, mesmo que em tom contrapontístico, comparando e julgando à partir de bases sólidas. Podemos escolher entre o romantismo da roda gigante e a emoção da montanha russa, e mesmo assim a história continua com essa visão cíclica, porque uma hora vamos embora do parque pela mesma porta.

Basicamente, a bagagem é que importa e o que vamos carregar para qualquer brinquedo e toda vez que formos a um brinquedo novo vamos sair diferentes de quando entramos.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Obrigado, acaso

Escrever em linhas tortas é uma questão de referencial. Talvez as linhas não estivessem inclinadas nem tortas, mas nós mesmos as víamos como tal. Assim como na Física, o subjetivismo depende do referencial e este pode sempre mudar; mudar de referencial é o que nos faz crescer como homens, trocar paradigmas.

A impressão é que, às vezes, quando não se sabe mais o que fazer para ler nessas linhas “tortas”, o melhor é simplesmente mudar o referencial e a maneira de enxergar tudo. Muitas circustâncias anulam os rótulos “certo” e “errado” e é normal se perder num mar de letras que não formam sentido.

Mas e se a solução for simplesmente sair fazendo sem preocupações com a precisão e objetividade? Tipo deixar a sorte pegar carona e dar as direções aleatoriamente: às vezes nos cegamos e não vemos que o caminho a seguir está bem perto, a uns dois passos para a direita ou para a esquerda, mas estamos preocupados em sempre dar passos para frente.

O acaso sempre chega até nós, assim como o imprevisto e o imprevisível e nada podemos fazer senão aproveitar para tomar decisões, quaisquer que sejam elas. Isso fica muito nítido em tempos de crise, quando quem apresenta uma mínima solução pode alcançar muito mais do que imaginava.

Devemos agradecer, em parte, ao acaso. É só pensar em quantas coisas fizemos de bom que foram porque encontramos um amigo antigo ou quando um empreendedor achou uma demanda de mercado “do nada” ao atravessar uma rua...

A relação com o acaso pode ser simplesmente a de enxergar as linhas tortas de maneira diferente, de modo que possa fazer algum sentido. Assim pode-se entender e multiplicar os sentidos, além do mais nos tira certa obrigação de dar certo da maneira que imaginávamos.

Metáfora do barco



Amyr Klink atravessou o Atlântico na década de 80. A remo. Eu sei, você deve estar pensando que é impossível um camarada atravessar milhares de quilômetros apenas com um par de remos, mas sim, só ele, o céu, o mar e as baleias. Pois então acredite, porque está tudo relatado em seu livro “Cem dias entre o céu e o mar”.

Esse livro passa uma história muito mais profunda que uma simples aventura e a vejo como uma metáfora da vida, em que nossas vidas são os barcos, os remos são nossas ferramentas, os destinos são nossos objetivos e cada um de nós é o capitão do seu próprio barco.

O que achei mais interessante no livro foi o planejamento de toda a viagem, as soluções que Amyr encontrou para tornar seu sonho real e sua confiança e coragem em seu plano de navegação, porque obviamente eles passou por alguns momentos terríveis e outros fantásticos.

Realmente é admirável o trabalho de Klink, mas uma coisa fica muito clara desde o início: ele sabia onde queria chegar. Ele tinha um motivo e usou de sua motivação para alcançar as soluções através de muito estudo e trabalho e é isso o mais legal da metáfora: o que importa é onde queremos chegar, porque usar da inteligência e dedicação para encontrar o melhor caminho não adianta em nada se não temos nem uma noção do destino final.

Isso não quer dizer que não se pode mudar de destino ou rota, porque nossas vontades mudam e várias vezes as oportunidades aparecem e interferem no itinerário. Mas ao final das contas resta apenas uma coisa, ter pelo menos um destino em mente.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Cicatrizes têm seu valor

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Ao observar pessoas que gosto sofrerem com situações parecidas com as que já passei parece que não me assusto mais com essas dores. Talvez porque já tenha passado por cima de muita coisa, fico tranquilo porque sei que elas vão passar também. Parece meio coisa de pai e filho, mas é sempre bom cuidar das pessoas que a gente ama.

Resolver problemas é o que a maioria das pessoas odeia, mas muitos esquecem que viver é basicamente encontrar soluções e aguentar o tranco em todos os momentos. Por isso, acho que depois de um tempo a gente se acostuma com o sofrimento e ele não mais nos impede de viver, talvez por causa da essencial esperança de que amanhã pode ser melhor que hoje.

Nessa história toda vejo que quem permanece são as cicatrizes, que vão nos acompanhar pra sempre. Até fisicamente falando, fiquei em parte feliz quando “consegui” minha primeira cicatriz grande e visível. Qual criança brincou muito e nunca quebrou nada? É quase um troféu!

As cicatrizes provam que vivemos, que arriscamos, que sofremos, que aprendemos e que somos diferentes de antes. Elas servem como história para o presente e o futuro, já fecharam, diferentemente de traumas, que são as coisas que não resolvemos e que mais cedo ou mais tarde vão nos incomodar. De certa maneira, as cicatrizes nos deixam mais feios por fora e mais bonitos por dentro.