segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O novo presente

O novo presente

Um dos grandes desafios da vida acredito que seja enfrentar tudo como passageiro, seja o tempo, os momentos, os sentimentos ou até mesmo o pulso, que todos sabemos que, invariavelmente, um dia pára.

O poder de mudar e reconstruir é algo que fica mais difícil quando se está feliz, ou pelo menos quando se está iludido, porque a mudança exige comprometimento, risco, experimentação e quebra de paradigmas aos quais já estamos acostumados.

Dentro desse contexto, os pensamentos mais loucos beiram a mente, seja para tentar pensar diferente ou simplesmente quebrar a rotina, com ou sem raiva, com ou sem medo. Fato é que nunca somos uma coisa só e quando o foco se perde, tudo pode acontecer.

Mas a vida continua e nos exige um mínimo de respeito e firmeza quando aceitamos a tristeza e aceitamos curtí-la por inteira, com todas as suas perdas e ganhos. Falo em ganhos porque assim nos tornamos mais fortes e é necessário muito mais força para nos derrubar.

E se ao final de tudo nos restar dignidade, nada mais justo do que desejar “seja feliz com o novo presente”, seja ele a solidão, a posteridade ou a simples saudade nostálgica de uma infância.

domingo, 29 de agosto de 2010

Ser um pouco irracional


Domingo é um dia morto, seja pelo irritante Faustão ou pelos ecos na sala vazia. Um dia para se pensar na semana que se segue e refletir sobre todas as atmosferas do caminho que a vida nos leva.

Eu sei, isso soa clichê, mas as sensações são sempre parecidas e repetitivas, por isso optei (e aconselho) por novas atitudes em domingos introspectivos: quebrar a rotina, ter uma dose de desapego aos compromissos da segunda-feira e ocupar o tempo com coisas prazerosas.

Também nessas reflexões fiquei pensando se talvez a vida não seria mais fácil e menos dolorosa se fôssemos irracionais, se dissociássemos totalmente os sentidos e razões dos sentimentos. Imaginei que seria mais fácil não ter muito controle sobre as situações e nem ficar se cobrando de que poderia-se fazer mais.

Acho que esse é o problema do potencial, medir o quanto se consegue fazer, pois até se chegar a um resultado plausível, o erro para mais ou para menos estará presente e isso gera duas situações: o se diminuir ou o se esnobar. Claro que essas definições são fortes e totalmente racionais, mas você já se imaginou ser um animal?

Numa época muito difícil olhei para meus cachorros e fiquei vidrado nessa ideia: os bichos se contentam com a situação em parte pelo fato de não se sentirem obrigados a fazer mais e melhor, pois a irracionalidade corta a obrigação de sempre se pensar positivo e de buscar na razão soluções para apaziguar sentimentos. É quase um não-ser.

Acho que essa é uma solução para certos anseios. Se permitir, em alguns momentos, simplesmente não ser (os domingos são bons para isso). Viva o ócio necessário, porque só nele a expressão deixe estar tem total veracidade e uma dose de passividade que nós animais precisamos.

Parece muito contraditório falar num mesmo contexto em não-ser, novas atitudes e quebra de rotina, mas essa é a grande questão. Permitir-se não-ser em alguns momentos pode ser a forma mais racional e ativa de simplesmente deixar os sentimentos serem como são e não tentar controlá-los, mas sim experimentá-los da forma mais in natura possível.